Em seus primórdios, enquanto possibilidade técnica de registro da imagem ao final do séc XIX, a fotografia fora reconhecida como um espelho da realidade, graças ao poder mágico e sedutor de uma chapa de prata polida, tal qual espelho, que magnetizava os íons agregando a prata.Da sinergia entre a mecânica, a ótica, a física e a química fez-se a imagem. O aparato incorporara os padrões de representação renascentista, por meio da perspectiva, determinando que a imagem fotográfica logo fosse confundida com a realidade.
A caráter homonológico atribuído a fotográfica, fora perdendo força com o anarquismo das vanguardas modernistas nos meados do século XX. Experiências expansivas de artistas como Man Ray, Moholy-Nagy e Rodchenko, Dentre outros, desconstruíram esse caráter indicial inerente, modificando o paradigma da função representativa irrevogavelmente, hibridizando as fronteiras da imagem fotográfica.
Com o surgimento da tecnologia digital, a partir da década de oitenta, as possibilidades de manipulação da imagem ampliam-se, alterando-se o papel que a fotografia vinha exercendo, há quase dois séculos, como documento da realidade. Dado a facilidade de alteração da matriz Virtual – “ um análogo purificado a transformado pelo calculo” , nas palavras de Edmond Couchot - o caráter de verosimilhança atribuído à imagem fotográfica teve seu golpe de misericórdia, quando o binário “zero e um” substitui a matriz física. Troca-se a prata sensível do filme pelo CCD, o grão do negativo pelo pixel, o ISSO pelos bytes.
Na aurora do terceiro milênio, no contexto da popularização (democratização?) da câmeras digitas, essa transformação no suporte, além de alterar a tecnologia de registro da luz, possibilitou outras estratégias de apreensão do tempo e do espaço, modificando a relação como o ato fotográfico. O lugar da fotografia no cotidiano ampliam-se com as câmeras digitais portáteis , vídeos, TVs, álbuns virtuais, sites, emails, orkuts, flickr, etc. Vive-se a aldeia global profetizada por Macluhan. “O mundo hoje está condicionado, irresistivelmente a visualizar” e “ a imagem quase substitui a palavra”, profetizara Berenice Abott, já em 1951. Até mesmo a palavra imagem, segundo Paul Virillo, Já não é suficiente para designar o contexto de um mundo dominante pela tecnologia digital, uma avassaladora invasão que transformou impulsos de luz em imagem eletro-óptica.
Diante desse furação irreversível e , dado a complexidade das relações da imagem com o consumidor(leitor?), algumas questões? Haverá ainda espaço para a analógica? Qual o valor de autenticidade da imagem digital? O que muda no ato fotográfico? Onde estão e estarão os arquivos fotográficos virtuais? Até quando permanecerão? E mais: Como pensar visualmente? Como visualizar a existência? Como ponderar a simbiose entre fotografia e realidade? Que possibilidades a tecnologia digital favorece ao campo da arte? Dentre todos esses questionamentos interessa-nos aqui, primordialmente, o último.
Texto:Eduardo Kalif
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário